CHAMA

Quando nasci, uma parteira,
dessas do interior das Geraes,
sem anestesia, falou para a minha mãe:
é menina-mulher!
E minha mãe que há anos não ia ao cinema,
viu passar um filme à sua frente,
E disse: vai se chamar Lúcia
e luz derramar na escuridão desse sertão
Onde a palavra é o punhal mais que cruel,
que tanto mata e faz viver, sem distinção.

E desde então, atento esse destino,
Pois que desejo materno é profecia,
Eu tento, atenta,
E só, e só tento cumprir,
O que já era eu, quando eu nasci:
Deixar transparecer, elucidar, translucidar
O brilho de ilusões que nunca possuí,
Mas que busquei na ilusão do brilho,
Fulgor de lua e espelho,
Que refleti de um por um que encontrei.

Em nome de destinos, vários,
E em certidão de tantos nascimentos,
Da chama que me chama tantas chamas
Perdidas nesta e em outras histórias de sertão:

Vai, Lúcia, ser luz, em sua própria escuridão!