À diferença do que se poderia pensar inicialmente, este livro lida com um espectro de questões que vão muito além do estatuto, ou da identidade, do feminino. Sob a denominação de "feminino", Carla Rodrigues nos apresenta alguns dos traços mais distintivos do pensamento de Derrida: seus aspectos éticos e políticos, por ele renomeados hospitalidade incondicional e responsabilidade infinita. Uma ética que "quer ser menos - menos instauradora, menos definidora - para ser mais - o mais próxima possível do singular chamado do outro". Partindo do reconhecimento de uma herança cultural falo-fono-logo-cêntrica e apoiando-se no diálogo filosófico de Derrida com Nietzsche - no que diz respeito à suspensão da "verdade" - e com Lévinas - sobre as diferenças sexuais e a associação entre feminino e alteridade -, a autora acompanha a ampliação da crítica da desconstrução aos conceitos da tradição filosófica.Jacques Derrida foi um filósofo radicalmente comprometido com a prática do pensamento - um pensamento vivo, aberto ao processo de entendimento infinito, um pensamento que é também uma forma de resistência. Nesse sentido, o exercício da desconstrução talvez seja a proposta filosófica mais desafiadora da atualidade e, por isso mesmo, permanece ainda pouco compreendida. Ao fazer uma síntese dos quase-conceitos e analisar os principais valores que operam no pensamento do filósofo franco-argelino, Duas Palavras para o Feminino alcança o duplo objetivo de contribuir para o debate e a reflexão entre os estudiosos e de funcionar como uma introdução ao universo dessas ideias. Com uma linguagem fluente que não abre mão do rigor, Carla Rodrigues cria pontes de compreensão que põem à mostra o que há de mais fecundo no pensamento de Jacques Derrida..